terça-feira, 1 de julho de 2014

Inovação Social exige mudanças em modelos de negócios



Normalmente, quando se fala em inovação, a primeira coisa que vem a cabeça é a inovação tecnológica. Se prestarmos atenção na mídia, incentivos e apoios à inovação, quando partem do governo, se referem a algum tipo de inovação tecnológica. Na minha opinião, inovação não é ‘só’ tecnologia, mas ‘também’ tecnologia. Este é um ponto que, oportunamente, quero discutir mais profundamente neste espaço. Por hora, gostaria falar de sobre outro tipo de inovação que, necessariamente, não é inovação tecnológica - a Inovação Social.


O que é a Inovação Social?

Como é comum a todos os novos temas, existem muitas discussões e pontos de vista diferentes sobre a definição do conceito. 

Vários autores definem inovação social como atividades e serviços inovadores criados para 
atender a uma necessidade social e que são desenvolvidas e difundidas por organizações 
com fins sociais. Na Wikipédia, a definição de inovação social é mais abrangente. Refere-se
a novas estratégias, conceitos e organizações que atendem a necessidades sociais de todos os tipos – das condições de trabalho e educação até desenvolvimento de comunidades e saúde - que desenvolvem e fortalecem a sociedade civil (o conceito na íntegra você acessa aqui).

Inovação Social é um termo utilizado para descrever uma nova abordagem às parcerias público-privadas que visam incentivar descobertas de técnicas e metodologias que propiciem verdadeiramente a transformação social. Elas podem ser desenvolvidas com a participação da população e, quando aplicadas no seu cotidiano, vão gerar soluções simples para a transformação social e melhoria das condições de vida.

Um conceito mais simples e amplo inclui todas as inovações que geram impacto socioambiental positivo. Essa definição proposta é baseada na definição de inovação de Schumpeter e que foi aperfeiçoada por outros acadêmicos. O conceito pode ser descrito da seguinte forma: uma ideia implementada para um novo produto, serviço, processo ou sistema que gere transformação social positiva. O conceito é muito abrangente, para maiores detalhes, discussões e exemplos sobre o tema recomendo acessar o site “Social Innovation Exchange”.

O empreendedorismo social não é uma coisa nova. Embora tenha ganhado recentemente ares de novidade, é uma ação que já acontece há muito tempo. Um empreendedor social é, em essência, alguém que desenvolve uma resposta inovadora a um problema social (p. ex., um modelo de negócio para ajudar a combater a pobreza). Há uma década, o termo era muito pouco utilizado. Hoje em dia, em qualquer lugar do mundo, toda pessoa quer ser um deles. As conferências sobre Empreendedorismo Social são, invariavelmente, os eventos com a maior quantidade de estudantes provenientes das melhores escolas de negócios. A ideia por trás disso é que, coisas novas e eficientes podem gerar um aumento radical de produtividade no “setor social”. Um número crescente de empreendedores sociais já deixaram sua marca na inovação social, o mais conhecido é, provavelmente, Muhammad Yunus, economista e banqueiro de Bangladesh, um pequeno e extremamente povoado país asiático. 


“A paz duradoura não pode ser atingida a menos que grandes grupos da população encontrem formas de sair da pobreza”.

Essa é uma das frases atribuídas a Muhammad Yanus, Em 1976 fundou o Grameen de Bangladesh, um banco de microcrédito, em uma pequena aldeia onde o nível de pobreza atingia patamares exorbitantes.
Tinha por objetivos desenvolver melhores formas de crédito para população mais carente, com juros menores e sem garantias; acabar com a atuação de agiotas e oferecer oportunidades de auto-emprego para muitos desempregados na área rural de Bangladesh. Pelo seu projeto, foi contemplado com o Prêmio Nobel da paz do ano de 2006. Outro exemplo que vem de fora e de destaque é Wendy Kopp, o fundador do Teach for America, que coloca milhares de recém-licenciados de universidades para trabalhar como professores em algumas das piores escolas dos EUA.

Os negócios sociais têm contribuído para gerar várias transformações sociais positivas, funcionando, muitas vezes, como uma estratégia para o desenvolvimento sustentável. O cenário colaborativo que vivemos facilita e potencializa muitas ações. A inovação social, quando trabalhada de forma colaborativa, traz uma mudança importante em relação à maneira como o setor público, o setor privado e o terceiro setor atuam, pois ganha-se mais a sinergia entre várias ações. Logo, estabelecendo-se a sinergia e diálogo entre esses setores para cocriar estratégias, cria-se potencial para gerar inovações sociais que vão mudar a nossa forma de trabalhar e atuar na sociedade. A boa notícia é que, atualmente, muitas iniciativas nesta direção têm sido geradas.

As inovações sociais podem buscar soluções para vários desafios, por exemplo, no campo 
socioambiental. Foram apresentadas pelo Greenpeace Brasil no Seminário Social Good Brasil três campanhas (2). Um deles, o Liga das Florestas, é um projeto do Greenpeace juntamente com outras organizações para o lançamento de um projeto de lei popular pelo desmatamento no Brasil. Para apoiar você só precisa assinar a petição no site e, ao fazer isso, poderá compartilhar e estimular seus amigos a assinarem também. Além de colaborar, você estará ajudando a proteger as matas e ainda poderá ganhar prêmios. Os outros dois são, Salve o Ártico  e Deixe As Baleias Namorarem – veja o conceito básico de cada projeto no site.

Hoje estamos vivenciando grandes transformações tecnológicas. Temos que tirar proveito disso para alavancar iniciativas visando contribuir para gerar transformações sociais positivas. Usar as tecnologias atuais e o pensamento inovador para, de alguma forma, atuar proativamente no meio e no ambiente que vivemos e assim ajudar a melhorar o mundo. Hoje, o Brasil é considerado a capital das mídias sociais, segundo publicado na revista Forbes por Ryan Holmes, CEO of Hootsuite (para ver a reportagem na íntegra clique aqui). Neste mundo horizontal, a revolução digital (Plataformas sociais, Mobilidade, Cloud computing, Big data e Internet of things) que vem acontecendo lá fora está, simultaneamente, acontecendo aqui. Para se ter uma ideia, segundo pesquisa do CETIC.br (3), em 2013, o Brasil tinha 85,9 milhões de usuários de Internet e para 2014 a previsão é que mais da metade da população brasileira acesse a rede (mais de 100 milhões de pessoas!). Em se tratando da mobilidade, segundo a analista do Wall Street, Mary Meeker, o país ocupa o quarto lugar do mundo em número de smartphones, só ficando atrás de China, Estados Unidos e Japão, totalizando mais de 70 milhões de aparelhos no país (veja aqui).




Ainda sobre a pesquisa do CETIC.br, a maioria dos domicílios sem acesso à Internet estão em regiões com baixo IDH e em áreas rurais. As desigualdades por classe social e área geográfica persistem: na classe A, a proporção de domicílios com acesso à Internet é de 98%; na classe B, 80%; na classe C, 39%; e nas classes D e E, 8%. Nas áreas urbanas, a proporção de domicílios com acesso à Internet é de 48%, enquanto nas áreas rurais é de 15%. Além do constatado na pesquisa, é muito triste vivermos em um país conectado, mas, infelizmente, ainda com muitos problemas sociais, com números e estatísticas que não causariam inveja a nenhuma outra nação. Com 16 milhões de pessoas vivendo em extrema pobreza, somos o décimo país com maior desigualdade social no mundo e o quarto mais desigual na América Latina, segundo o relatório do programa das Nações Unidas para Assentamento Humano 2012 – ONU-HABITAT. Acontecem por ano nada menos que 21 mil km2 de desmatamentos (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais – INPE) e o número de homicídios em 2011 chegou a 52,2 mil (mapa da violência 2013).

O mais animador é que os brasileiros já estão utilizando as novas tecnologias e as novas mídias para colaborar na solução destes problemas. Iniciativas como o “Vem Pra Rua” (#vemprarua) foi um exemplo disso. Uma pesquisa realizada em agosto/13 apontou que 95% dos entrevistados acham que o movimento foi motivado pelas redes sociais, assim como, a iniciativa O Sonho Brasileiro que busca acordar o Brasil de dentro pra fora através de sonhos realizáveis que gerem um impacto positivo na vida dos brasileiros. Dados do portal mostram que 50% dos jovens se sentem mais conectados com pensamentos coletivos que individualistas e que dois milhões de jovens estão realizando ações para mudar sua realidade. A pesquisa de persuasão digital da George Town University comprova que o uso de tecnologias e das mídias sociais colaboram na mudança da sociedade. Na pesquisa, 75% das pessoas acreditam que influenciam amigos e a sua família sobre causas sociais usando mídias sociais, 64% apoiam causas sociais online porque leva menos tempo e 56% acham que a disseminação por mídias sociais é mais rápida que por outro meio. 

Percebendo essas oportunidades, algumas empresas têm estabelecido iniciativas para fomentar a inovação social no Brasil. Nesta linha, a gigante da tecnologia Google lança o Desafio de Impacto Social Google Brasil para incentivar a inovação social no Brasil. O projeto visa solucionar problemas sociais e gerar impacto através da incorporação da tecnologia na busca por soluções. Na primeira fase foram selecionadas 10 empresas, entre as quais 4 receberão como premiação 1 milhão de reais para serem utilizados no escalonamento dos projetos. Quatro projetos foram selecionados por um corpo de jurados: Meu Rio, Conservation International do Brasil, Instituto Zero a Seis e Geledés Instituto da Mulher Negra. Este último foi eleito com 475 mil votos (votação aberta pela Internet) como projeto favorito do público, que desenvolverá um app com recursos como a geolocalização para apoiar mulheres em situação de vulnerabilidade à violência doméstica. 

Outra empresa modelo no setor de Inovação Social é a 3M do Brasil. Ela criou o Instituto 3M de Inovação Social cujo objetivo é incentivar e investir em pesquisas que tragam soluções efetivas para o desenvolvimento social; tem o compromisso de divulgar e efetivar a aplicação das suas descobertas em comunidades carentes. Os desafios do Instituto 3M estão contidos na 8ª meta do milênio “Todo mundo trabalhando para o desenvolvimento”; suas práticas motivam a produção do conhecimento, dos estudos científicos e a formação de redes de relacionamentos entre estudantes, jornalistas e "tresemistas" na busca de descobertas de soluções sociais.

As inciativas não param. O Portal Social Good Brasil traz vários dos dados aqui citados, sendo também referência para quem acredita na inovação social através do uso das novas tecnologias.

Concluindo, as transformações tecnológicas e seus impactos, destacando-se a popularização das plataformas sociais e dos dispositivos móveis mudaram drasticamente a maneira como empresas e as pessoas se comportam. Na minha visão, os movimentos sociais que surgiram ainda são embrionários e não atingiram ainda todo o tecido social. No tocante ao empreendedorismo social, o problema está na velocidade e na escala. Inovações bem sucedidas, quando se propagam, se propagam muito lentamente, já tendo melhorado muito com a difusão das mídias sociais. Para as organizações, uma revisão no modelo de negócio é um dever de casa que deve ser realizado o mais rápido possível. Como as empresas vão, de alguma forma, liderar e/ou apoiar iniciativas voltadas à inovação social é uma questão a ser respondida. 

Interessado em praticar a Inovação Social? Aqui vão algumas dicas para você colocar em prática seu espirito de empreendedorismo social (4):




1. Seja Mentor de um Inovador Social (ou mais). Ofereça seu conhecimento e experiência profissional para ajudar a um jovem empreendedor social.
2. Contribua com suas ideias inovadoras inscrevendo-se em uma das organizações que promovem Inovação Social na sua cidade ou região.
3. Ofereça seu tempo disponível como voluntário para um projeto de Inovação Social de impacto para a sua comunidade.
4. Faça uma doação à entidades que promovem a Inovação Social.
5. Mantenha-se informado seguindo inovadores sociais no Twitter e no Facebook ou assinando newsletters de Inovação Social.

Notas e Referências:

(1) Nossa sociedade está organizada juridicamente em três setores conforme o estabelecido na Constituição Federativa Brasileira. O Primeiro Setor (Público) abrange as instituições públicas das três esferas governamentais, quais sejam, Municipal, Estadual e Federal. O Segundo Setor (Privado) inclui as empresas em geral, nos segmentos: Indústria, Comércio e Serviços. O Terceiro Setor está inserido no setor social, que é composto por instituições organizadas pela sociedade civil na busca de seus direitos ou de suas necessidades.

(2) Amanda Fazano representou Greenpeace Brasil no Seminário Social Good Brasil, onde falou sobre mobilização de pessoas e recursos para ONGs. Maiores detalhes ações que envolvam mobilização social pela Internet recomendo acessar o Portal Voluntários Online: http://www.voluntariosonline.org.br/publica/index.jsf

(3) Centro Regional de Estudos para o Desenvolvimento da Sociedade da Informação (CETIC.br), órgão ligado ao Núcleo de Informação e Coordenação do Ponto BR (NIC.br) e ao Comitê Gestor da Internet no Brasil (CGI.br). 
http://idgnow.com.br/internet/2014/06/26/mais-de-metade-da-populacao-brasileira-e-usuaria-de-internet-afirma-nic.br/

(4) Segundo Alexis Gonçalves, que é membro do Conselho Diretivo da American Society for
Quality e autor dos livros "Innovation Hardwired” e “Herramientas Avanzadas de Innovación”.









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