segunda-feira, 27 de janeiro de 2014

Uma conversa sobre Inovação

Toda empresa, grande ou pequena, parece desesperada para desvendar os segredos da inovação — sobretudo da inovação a custo acessível e sem assumir riscos desmedidos. 

Um grande mito precisa ser quebrado: de que para inovar a empresa precisa ter “professores pardais” ou gênios criativos. Não é bem assim. 

Quando pensamos em empresas inovadoras vem sempre à mente nomes como Apple, 3M, Google entre outras. A inovação não depende do segmento em que a empresa está inserida. Como exemplos podemos citar a Natura, maior fabricante brasileira de cosméticos e produtos de higiene e beleza, e líder no setor de venda direta no Brasil. 

A empresa foi a primeira brasileira a aparecer no ranking das 100 empresas mais inovadoras do mundo (2011), ocupando a 10ª posição, de acordo com a lista anual divulgada pela versão norte-americana da revista Forbes (www.forbes.com/innovative-companies/list/). A Embrapa hoje é uma referência em inovações no campo do agronegócio, assim como algumas concessionárias de energia elétrica que apostam em energias “limpas” e ferramentas para detecção de falhas em cabos, por exemplo. Também podemos citar pequenas empresas e startups (pequenas empresas de cunho tecnológico) que, consistentemente, vem lançando produtos inovadores. No ranking publicado pela Comissão Europeia das 2000 empresas que mais investiram em inovação no mundo, o Brasil figura com apenas oito empresas, sendo que, entre as primeiras 100 empresas, temos a Vale (em 98ª posição). A explicação para isso não é tão simples. Engloba um conjunto de fatores, circunstâncias e conceitos sobre o que é inovar. Vamos lá...

A inovação pontual pode fazer com que a empresa avance também pontualmente. A inovação
tem que ser pensada como uma gestão da inovação, isto implica que a empresa monte e mantenha rigorosamente uma “carteira de inovação”. Isto é, administrando a inovação por toda a organização, em vez de depender de iniciativas aleatórias e isoladas fará com que a empresa avance sistematicamente. Mas uma coisa é certa: não é apenas o volume de investimento em pesquisa e desenvolvimento (P&D) que é importante, ou seja, não adianta gastar muito se o gasto for pouco eficaz.

Afinal o que distingue as empresas mais inovadoras das demais empresas? Em primeiro plano está a sua habilidade de valorizar as pessoas (capital humano) retendo seus talentos. São empresas que cultivam relacionamentos internos e externos (inovação aberta), exploram 
valores como marca e autoconhecimento, possuem uma cultura e ambiente propícios à geração e aceitação de ideias (brainstorming, tempo livre para pensar, remuneração por boas ideias etc.), que direcionam seus investimentos e a execução de sua estratégia. Combinadas, estas características se complementam e se reforçam, gerando uma clara diferenciação das demais empresas. Em outras palavras, o que faz com que as empresas sejam inovadoras não é o “quanto” elas gastam, mas sim “como” elas gastam.

Reforçando o estudo da Comissão Europeia sobre investimentos das empresas em inovação, um outro estudo global, o “Innovation 1000”, sobre empresas inovadoras, realizado em 2012 pela consultoria Booz & Company, revela uma situação não muito animadora. Apesar de o Brasil ocupar hoje o posto de 7ª economia do planeta, estamos em 17º lugar na relação de países com empresas que mais investem em P&D. Nesse estudo, entre as mil listadas, apenas cinco empresas são brasileiras e a Petrobrás, atualmente na 119ª colocação, subiu apenas uma posição, passando para 118ª. Esta subida no ranking se deveu ao ciclo de investimento necessário à P&D de toda a cadeia de valor do pré-sal.

Um exercício interessante é voltar alguns anos atrás nos dados deste estudo da Booz & Company e verificar quantas empresas brasileiras constavam desta lista. O dado é chocante: em 2005, apenas três empresas brasileiras apareciam entre as mil principais, e a Petrobras já estava lá. E, nestes sete anos, somente duas novas empresas brasileiras entraram no ranking! O Brasil tem se destacado mundialmente em inovações no agronegócio, no setor de petróleo, na indústria de cosméticos entre outros. Isso se deve à qualidade e disponibilidade de insumos, de seus recursos naturais e ao talento de muitos profissionais envolvidos nessas e outras áreas.  O investimento em P&D é uma condição necessária à inovação, mas não suficiente, embora com certeza exerça papel fundamental para que empresas brasileiras 
possam competir, nas mesmas condições, com empresas globais.

O baixo investimento em P&D no Brasil explica-se por varias questões conjunturais como baixo nível e a dificuldade de acesso à educação, excesso de burocracia e mecanismos de incentivos complexos Outros aspectos - não menos importantes – são o arcabouço legal para proteção de propriedade intelectual no país, carga tributária elevada e, acima de tudo, a visão míope da maioria dos empresários, sempre almejando resultados de curto prazo sem pensar na geração de valor a longo prazo.

Colocados de lado os aspectos referentes às questões governamentais relativas ao incentivo
à inovação, salientamos que as empresas podem e devem investir na sua orientação à inovação. O acompanhamento de perto da gestão de empresas, há mais de 20 anos, nos permite inferir que é possível sim implantar um crescimento sustentável através da inovação sistêmica. O primeiro ponto é ter a pessoa certa no lugar certo. Pessoas mais comprometidas, motivadas, alinhadas aos objetivos do negócio geram maior produtividade. O segundo ponto é o alinhamento estratégico. Projetos de inovação precisam ser focados na estratégia da empresa, respeitar sua cultura, valores, conhecimento, capacidade de investimento e ter as tecnologias aplicadas e a tecnologia da informação aderente aos processos operacionais e de negócios. Terceiro e último ponto: é preciso haver um claro incentivo ao intra empreendedorismo e a uma cultura corporativa que apoie e estimule a inovação. Em tempo: o alinhamento estratégico deve considerar a inserção da organização nas quatro ondas tecnológicas – as Redes Sociais, Big Data, Mobilidade e Nuvem.

Estas novas tecnologias permitirão, ainda mais, a coleta de dados que se transformarão em informações que, devidamente analisadas produzirão conhecimentos. Estes, por sua vez, 
dependendo da forma como serão utilizados, irão construir a inteligência organizacional. A inteligência tem papel crescente no apoio à tomada de decisões estratégicas e na reestruturação de atividades técnico/operacionais mais eficientes. Ressaltamos que, em qualquer das etapas (dados, informação e conhecimento), o papel das PESSOAS é fundamental na geração do conhecimento. Afinal, as pessoas são o motor de inteligência.

Por mais complexo que possa parecer, é possível criar as condições por meio de métodos, processos, sistemas, metas, etc., para que empresas sejam mais inovadoras. O caminho é árduo e exige mais transpiração do que inspiração.